** Por Juliana Yade
“Não importa quão longa seja a noite, o dia certamente virá.”
Este é um provérbio africano, da civilização Bantu, que pode ajudar a traduzir um pouco das nossas vivências ao longo da pandemia.
Experimentamos, nos últimos dois anos, incertezas e desafios em diversos campos, na saúde pública, no plano socioeconômico e na educação. Em muitos momentos, a sensação foi, como no provérbio, a de estarmos atravessando uma longa noite.
O isolamento social trouxe grandes prejuízos às convivências, às aprendizagens e aos afetos, atingindo todos, mas de maneiras distintas. Reconhecemos que as desigualdades já existentes foram acentuadas e vimos grande parte dos estudantes com dificuldades em ter garantidas as condições necessárias para continuarem aprendendo.
No entanto, como sociedade, demonstramos capacidade de responder a muitos dos desafios impostos pela pandemia e, com o apoio da ciência e da tecnologia, fomos, coletivamente, “tecendo a manhã” – tomando emprestadas as palavras de João Cabral de Melo Neto*.
Avançamos no controle da letalidade por meio da cobertura vacinal. Presenciamos ações de solidariedade voltadas às muitas pessoas que se viram desprovidas de seus empregos e de condições básicas para tocar a vida. Constatamos o fortalecimento da relação entre as escolas e as famílias que precisaram reconfigurar e ressignificar o espaço e o tempo das aprendizagens quando as aulas passaram a acontecer nas casas, pela tela da TV, pelo celular ou por meio de materiais impressos.
Chegamos agora ao esperado momento de retornar às atividades escolares presenciais. Com isso, definir estratégias de acolhimento e valorizar as soluções construídas por profissionais da educação em articulação com as famílias é fundamental. Precisamos também compreender as necessidades de cada estudante neste retorno para estruturar um processo de ensino e aprendizagem equânime.
Estudos nacionais e internacionais sugerem que o tempo de fechamento das escolas, mesmo que por um curto período, resultou em impactos negativos nos níveis de aprendizagem, trajetória escolar e futura inserção no mercado de trabalho para estudantes. É no esforço contínuo de construir estratégias para recuperar as aprendizagens prejudicadas durante este período e também de rever e redesenhar possibilidades que promovam o avanço e a equidade – não um simples retorno ao cenário de desigualdades anterior à pandemia – que olhamos para os desafios que estão postos. O momento exige um compromisso de toda a sociedade e especialmente de gestores públicos, com ações que articulem teorias e práticas nos atos de ensinar e aprender.
Novamente citando João Cabral de Melo Neto, “se erguendo tenda, onde entrem todos”, recuperar as aprendizagens é condição para que todas as crianças, adolescentes e jovens possam desfrutar a educação como direito. Isso só se efetiva com acesso, permanência e desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e competências adequados para cada etapa do ensino. Importa também, para a garantia do direito à educação, que se promova a participação coletiva e assim se possa tramar esse “tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão”.
Para apoiar o planejamento educacional neste contexto, o Polo disponibiliza um novo percurso formativo, o Recuperação das Aprendizagens.
Os temas apresentados nesse percurso dialogam com as orientações do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do Ministério da Educação (MEC) para este momento e oferecem conteúdos e ferramentas para que as equipes possam montar planos de trabalho de forma colaborativa.
O percurso é formado por seis cursos independentes e com as seguintes temáticas complementares: