por Angela Dannemann*
A discussão sobre o uso de novas tecnologias na educação ganhou destaque no ano de 2020 devido à interrupção das aulas presenciais de mais de um bilhão e meio de estudantes no mundo. Antes da pandemia, a educação digital ainda era tratada por muitos como “artigo de luxo”, distante da realidade da maioria de nossas escolas públicas e também rodeada de preconceitos e resistências. Mas, em pleno isolamento social, a adoção das tecnologias digitais nas redes de ensino tem tornado possível a realização de atividades pedagógicas remotas para uma parcela de estudantes com equipamentos e conectividade.
Muito esforço e articulação ainda são necessários para que essa nova condição seja garantida a todos – mas é necessário imprimir um senso de urgência. A pesquisa “Educação não presencial na perspectiva de alunos e famílias” aponta que, em julho, 18% dos estudantes de escolas públicas sequer haviam recebido qualquer atividade remota, sendo que no Norte e no Nordeste essas parcelas foram ainda maiores: 38% e 30%, respectivamente. Frente a esse quadro de desigualdades, torna-se ainda mais urgente que a educação digital realize seu potencial como aliada da garantia do direito à educação básica.
Os desafios são muitos. Relações de todos os tipos têm sido impactadas desde o começo da pandemia. Diante do ineditismo e da gravidade da situação vivida em 2020, com o enfrentamento de dificuldades de diversas ordens, a retomada das atividades é favorecida pelo uso qualificado de recursos tecnológicos em diversas áreas. Com a educação não é diferente. A atual geração de estudantes nasceu em tempos de alto consumo digital e enfrenta, além do descompasso do sistema de ensino para o uso desses recursos, a pouca formação de seus professores para o uso de tecnologias no processo de ensino e aprendizagem, mesmo que sejam usuários frequentes em outros contextos. Ainda é pequena a familiaridade com o uso pedagógico dessas ferramentas, apesar do intenso movimento de professores para se adequar a esse novo contexto. Na segunda etapa da pesquisa “Sentimento e percepção dos professores brasileiros”, que vem sendo realizada pelo Instituto Península, afirma-se que 83% dos professores brasileiros, em média, ainda se sentem nada ou pouco preparados para o ensino remoto, ao tempo em que já reconhecem que essas habilidades serão essenciais. A necessidade emergente dessas habilidades acentuou diferenças não apenas geracionais, mas também estruturais e sociais.
Há, portanto, uma série de medidas necessárias. A disponibilização de atividades mediadas pelas novas tecnologias exige uma infraestrutura mínima que precisa ser garantida – e, na maioria das vezes, adaptada. Ela também exige dos usuários habilidades específicas para transpor o modelo presencial para o digital da melhor maneira possível. O professor, portanto, precisa receber apoio e infraestrutura para a construção e disponibilização de recursos educacionais digitais (REDs), além de formação e orientação para o uso das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação) em seu planejamento pedagógico. Além do professor-autor que desenvolve os temas e planos de aula para o ensino digital, alguns profissionais, como designers gráficos e instrucionais contribuem para que a transposição do conteúdo didático para as plataformas digitais seja feita de maneira adequada.
O contexto da pandemia nos mostra movimentos importantes que precisam ser reconhecidos e alavancados. Em grande parte, sem uma formação inicial que os preparasse para o desafio, professores destacaram-se ao reinventarem suas aulas, buscando formação continuada, utilizando a criatividade e vencendo barreiras tecnológicas. Na primeira onda da mesma pesquisa do Instituto Península, constatou-se que 60% dos professores estavam estudando e se aprimorando. Instituições de ensino e organizações sociais se movimentaram, buscaram ferramentas e equipamentos, empresas de telefonia em parceria com órgãos públicos disponibilizaram conectividade e vamos, enquanto sociedade, paulatinamente, estabelecendo uma nova rotina mediada por telas. Parlamentares já discutem no Congresso projetos de lei que endereçam a necessidade de oferta de equipamentos e conectividade a quem mais precisa. Redes estaduais e municipais já contam com o uso de recursos digitais como um instrumento importante e se somam aos esforços de retomada e acolhimento de estudantes e famílias. Este é um momento importante para valorizarmos a discussão sobre as possibilidades da tecnologia a serviço da oferta de atividades pedagógicas em prol do desenvolvimento de crianças e adolescentes. Discussão que ganha força em meio à crise e que amplia perspectivas para o momento da retomada das aulas e daí para a frente.
É como parte desse movimento mais amplo que o Itaú Social trabalha para oferecer cursos digitais livres e ferramentas cada vez mais relevantes para que a educação brasileira continue avançando.
*Angela Dannemann é Engenheira Química (UFBA), Mestre em Administração (IBMEC-RJ) e Especialista em Avaliação de Programas (CEATS/FIA/USP).
Atualmente é Superintendente do Itaú Social. Participa dos conselhos do CONSOCIAL FIESP (Conselho Superior de Responsabilidade Social), do CIEB (Centro de Inovação da Educação Brasileira), do CIVI-CO – Polo de Impacto Cívico Social e UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Infância no Brasil).
É associada da ABAVE (Associação Brasileira de Avaliação Educacional) e da AEA (American Evaluation Association) e foi fundadora da RBMA (Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação).